Entre as nossas múltiplas originalidades nacionais há uma que há muito me intriga, porque resiste teimosamente, ao tempo e à lógica, aparentemente indiferente à evolução e progresso natural das coisas: a forma como os portugueses pagam gasolina nos postos de abastecimento.
Para quem não saiba, Portugal tem uma das redes de pagamento automático mais avançadas do Mundo. Beneficiámos, como noutras áreas, de começar mais tarde que a maioria dos países ditos desenvolvidos, e isso resultou numa rede de multibanco unificada, então uma excepção, a partir da qual surgiu aliás uma míriade de inovações, dos primeiros telemóveis pré-pagos à Via Verde, para além da possibilidade de pagarmos tudo, da conta da luz aos impostos, usando um simples cartão de débito. Tornou-se aliás comum ver o português típico usar o referido cartão para pagar a mais pequena das despesas, levando os próprios comerciantes a estabelecerem limites mínimos de utilização.
Tudo isto só torna mais estranho o fenómeno que observo cada vez que ponho gasolina, servindo-me da máquina integrada nas bombas que permite, utilizando um cartão multibanco, pagar o combustível e obter o recibo sem ter sequer que me afastar do carro. O fenómeno que eu refiro é reparar, invariavelmente, que pareço ser o único a fazê-lo. Toda a gente insiste, mesmo em alturas de maior afluência, em deslocar-se à caixa para pagar, com o mesmíssimo cartão, a gasolina que abasteceram no minuto anterior, após aguardarem pacientemente numa fila pela sua vez. É para mim a maior das idiossincrasias nacionais: o povo que inventou o desenrascanço, que ignorou os sinais de proibido de fumar durante décadas, cujo sentido de independência lhe deu a fronteira nacional mais antiga da Europa é também o povo que mais facilmente adere em massa à pior forma de fazer as coisas, só porque é essa a forma usada pela maioria dos outros.
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