Friday, October 28, 2011
Pobres ricos
Esta quarta-feira, já de madrugada, os líderes da União Europeia chegaram a um acordo de princípio para evitar a morte prematura do euro, com a insolvência descontrolada da Grécia, a que provavelmente se seguiria igual destino para Portugal e a Irlanda, e ataques cerrado dos mercados às economias de Itália e Espanha, demasiado grandes para serem salvas pela UE.
O enorme suspiro de alívio que percorreu a Europa, incluindo os mercados de capitais, não permitiu que fosse dado o devido destaque a um aspecto que, embora mencionado como normal, simboliza o quanto o mundo mudou nestes últimos anos.
Refiro-me à assumpção de que as economias emergentes, nomeadamente a China e o Brasil, poderiam ajudar a UE a financiar a dívida europeia, estabelecendo-se uma forma de entrarem no Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF). Segundo os relatos da imprensa, o primeiro telefonema que Nicolas Sarkozy realizou após o término da cimeira foi para o seu homólogo Hu Jintao, e o director do FEEF embarcou de seguida para Pequim, onde irá reunir-se com os dirigentes chineses para discutir a participação chinesa no fundo do qual dependerá em boa parte a viabilidade das finanças públicas de economias como a nossa.
Por trás da retórica cordial - Hu Jintao referiu-se à Europa como "a maior economia do mundo" - está um jogo de interesses que enfraquece a posição da UE perante o país mais populoso do mundo, e se há coisa que é certa quanto à China é que nunca hesita em explorar ao máximo qualquer posição negocial vantajosa. Não é difícil perceber que tornando-se a China, e as suas gigantescas reservas de capital, um actor na sustentabilidade financeira da Europa, a probabilidade do Dalai Lama voltar a ser recebido por um líder europeu de primeira linha se reduz consideravelmente.
Quando o tempo e distanciamento permitirem aos historiadores analisar a relevância do momento que vivemos tenho sinceras dúvidas de que esta cimeira seja assinalada pela solução, incompleta e potencialmente instável, a que se chegou para tentar salvar a moeda única europeia. O que será assinalado, isso sim, será o momento em que os líderes do maior bloco comercial e económico do mundo assumiram claramente que a Europa está num caminho de perda, inexorável e inevitável, de poder e riqueza.
Os governantes chineses sabem, tal como os seus congéneres europeus, que uma recessão prolongada no seu principal parceiro comercial pode pôr em causa o crescimento da sua economia, e com este a estabilidade do País, mas ainda assim não deixa de ser extraordinária a forma como a Europa, ainda ontem o membro rico do clube, que há pouco mais de um século atrás dominava e explorava a China a seu bel prazer, está hoje de mão estendida pedindo a ajuda chinesa, assumindo e aceitando a certeza da supremacia do Reino do Meio no remanescente do Século XXI.
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