Thursday, October 27, 2011

Life's (not) short and then you die

















Duas coisas prenderam a minha atenção esta manhã: a primeira foi uma notícia do Público de hoje, que revela que a partir do último dia deste mês deveremos ter ultrapassado a barreira dos 7.000 milhões de seres humanos a respirarem o ar deste o planeta, e que Portugal é o terceiro país do Mundo com menor taxa de fecundidade, ou seja nascem cada vez menos portugueses, e se a situação não mudar estaremos condenados a ser um País de velhos, com tudo o que isso implica, incluindo o pormenor não inteiramente despiciendo de não existirem jovens suficientes para sustentar algo que se assemelhe sequer a um Estado Social.

A outra coisa que me chamou a atenção foi, mal cheguei ao escritório, entre o spam característico da revisão matinal do e-mail ter-me surgido um anúncio, com uma simpática rapariga e um rapaz a olharem, muito sorridentes, um para o outro, de um serviço chamado "SecondLove.pt", que começa pelo apelativo headline "à procura de atenção extra?",  com um logotipo que coloca uma forma indefinida de cor branca no meio de dois corações vermelhos, rematado com a assinatura "a vida é curta, tem um second love", explicando ainda no body copy, para quem não tivesse porventura percebido do que se trata "à procura de romance porque em casa tudo virou rotina? Quebre a rotina e seja atrevido! A vida é tão curta....".

Apesar de preferir este anúncio a outros que reclamam uma capacidade infalível de influenciar o tamanho de certas partes da minha anatomia, ou que oferecem fortunas incalculáveis em troca de uma pequena transferência em dólares para uma viúva nigeriana, há algo que me incomoda neste anúncio para além do óbvio, ou seja do uso leviano da pontuação pelos seus autores, e da relativização das poucas coisas que me ensinaram em pequeno não serem relativas, como dizer a verdade e saber merecer a confiança que os outros tenham em nós.

O que me incomoda não é a existência do serviço, que como qualquer outra invenção humana apenas foi criado para satisfazer uma necessidade existente. O que me incomoda é a forma fácil como nos países ocidentais nos convertemos facilmente numa sociedade de hedonistas egocêntricos, em que nada é mais importante que a nossa satisfação pessoal, muitas vezes expressa, numa lógica difícil de contrariar, no nosso "direito" a sermos felizes, que torna tudo o resto secundário.

É por isso que não temos filhos; não é por falta de possibilidades, que a esmagadora maioria dos portugueses tem mais possibilidades e conforto material do que os seus pais ou avós, mas porque temos que pesar o crescimento da família, e os inconvenientes que lhe estão associados, com o espaço que resta para sermos "felizes"ou, dito de outra forma, para termos o que queremos.

E é por isso que, nesta ânsia de ter as suas vontades satisfeitas, de ter uma felicidade que assenta no que recebemos da vida, que muita gente, da minha geração e das seguintes, vai perceber, quando derem por si sozinhos a colher o que não semearam pela vida fora, que afinal, ao contrário do que dizem os senhores que vendem a emoção imediata de um "second love", a vida é bem menos curta do que parecia.

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